sábado, 12 de abril de 2008

Paradoxo do Discurso

Paradoxo do Discurso

Piraquara tem a vocação natural pela sustentabilidade. Para que tal aspiração seja cumprida há a necessidade de que todas as esferas de decisão no município integrem a sustentabilidade em suas decisões. Contudo, a observação das ações no município, em contraponto ao discurso, mostra evidências de que nem iniciamos de forma efetiva a jornada pela sustentabilidade ainda.

Exemplo desta dicotomia é o festiva Lupa-Luna onde os moradores da região não foram sequer consultados quanto a sua realização. Imaginem quantos pais e mães que trabalharam a semana inteira e buscam no final de semana a oportunidade para descansar ao lado da família e não conseguem dormir porque um festival que utiliza o moto da ecologia não lhe deixam dormir em paz.

O paradoxo do discurso e da prática neste festival tem um ícone passível de observar a grande distância no período da noite: a pobre da araucária a beira da BR 116 que tem vários canhões de luz apontados para seu topo. Se eu fosse um dos habitantes daquela árvore faria minhas malas o mais breve possível com tamanha intrusão.

O que mais me preocupa é a possibilidade de que empresários, funcionários e público de um evento como esse acreditem genuinamente que o evento contempla de forma adequada os princípios da sustentabilidade. Obviamente não há verdade absoluta em um conceito tão emergente como a sustentabilidade mas certamente o respeito aos outros indivíduos do eco-sistema em que vivemos é um axioma mínimo para quem pretende realizar eventos com este moto.

Quando uma prefeitura e um empresários passa a entender que podem ignorar os direitos de uma família, imaginem a sociedade que estão moldando para o futuro. Os alvarás e autorizações nos orgãos oficiais podem tornar tal evento legalmente aprovado mas não mudam o fato do mesmo ser imoral e demagogo. Talvez o maior prejuízo para a sociedade é o fato de perder-se aqui a oportunidade de se dar o exemplo, de se educar em escala, de efetivamente contribuir para uma sociedade mais sustentável.

Desejo aos que participarão do evento (funcionários, bandas, etc) o máximo de diversão possível dado as circunstâncias. Aos moradores da região, particularmente aqueles de baixa renda e que na prática não tem voz neste processo, fica a minha esperança de festivais de música no futuro efetivamente mais éticos ambiental, econômica e socialmente.

Aguinaldo dos Santos